Sobre ser por inteiro

Hoje as minhas frases não passam de sentenças vazias. Abandonadas no espaço para serem consumidas pelo tempo. Acho que desaprendi a unir as palavras de modo que façam mais do que apenas algum sentido. De modo que façam sentir. Havia um elo que dolorosamente e involuntariamente se partiu. Quebrou. O problema é que o fio que nos ligava segurava uma carga de verdades não admitidas pesadas demais pra que eu pudesse carregar. Para que eu pudesse aceitar. Mas então, naquele momento, era impossível evitar que elas caíssem sobre mim. E caíram.

Lançaram sobre mim um cobertor de desespero.  O que me acobertava, continua a me cobrir, mas agora, também sufoca. Eu finalmente percebi que muito antes das minhas palavras, eu já estava quebrada. Irremediavelmente acabei descobrindo que não é possível que eu me entregue a nada por inteiro enquanto eu estiver pela metade. E pra escrever, escrever de verdade, é indispensável se entregar. Escrever uma parte do que pode ser um todo não me satisfaz. Ser uma parte do que pode ser um todo não me satisfaz.

Eu venho tentado me juntar. Reestabelecer a ligação que se perdeu quando eu quebrei. No entanto, por mais que tente, eu continuo frágil demais. E eu sei que não estou fazendo mais do que uma reunião superficial dos meus pedaços. Aparento estar inteira, mas logo, logo eu estarei desconectada novamente. Despedaçada. Como as minhas palavras vadias.

Eu preciso de um tempo. Um tempo pra me recriar. Deixar de ser pedaço, voltar a ser inteira. Não importa se serei lágrima ou se serei sorriso. Contanto que eu seja inteiramente algo por um tempo pleno. Assim também, não importa se escreverei sobre dores ou sobre felicidades. Contanto eu seja na íntegra intensa e verdadeira. Eu preciso ser um todo. Eu necessito me entregar de todo. Eu quero ser inteira. De novo.

Eu desaprendi a escrever quando desaprendi a ser.