25 de março de 2012

Sobre arcos e flechas

Arco e flecha. Sinto a tensão se espalhando pelo meu corpo enquanto resposta a força do silêncio que age sobre mim. Às vezes, o cobertor do silêncio consegue ser mais gritante do que qualquer outro barulho no mundo. E mais pesado. Eu poderia tocá-lo. Nesse momento, eu poderia tocar o silêncio.

Eu ouvi o seu coração bater. E quando você sorri em minha direção, eu sei que você também pode ouvir o meu. Trocamos um rápido olhar e voltamos a nos concentrar em nosso alvo. Procuro estabelecer o meu pé firmemente no chão, pois eu sei o quanto isso é importante. Você não parece fazer o mesmo. Porque você não faz o mesmo?

Escolho a minha flecha, uma a qual já estou acostumada. Você escolhe uma que nunca usou antes. As colocamos em nossos arcos e os puxamos. Com cuidado para não esticar demais. Ajeito o meu ombro e encosto a mão direita no queixo. Agora vem a parte mais difícil.

Tento me concentrar e respiro fundo. Não consigo. Minhas mãos tremem. Não estou certa do que estou fazendo. Estou com medo. Muito medo de errar. O encaro. Relaxo meu arco e observo sem acreditar o modo como parece estar confiante disso. Desvio o olhar antes que perceba que eu ando o observando.

Retomo a minha posição. Sei que você está me esperando para atirar. Mais uma vez, eu me preparo. Aplaco meu coração para minha mente tomar o controle. Respiro fundo e olho para você, dando o sinal. As nossas flechas saem voando, rasgando o silêncio com suas pontas afiadas. Uma faca que rasga um tecido.

Estou analisando a sua expressão quando acontece. Nós erramos o alvo. Você parece decepcionado, e talvez por isso não consiga ver o que eu vejo desde o começo. Nós erramos o alvo porque nunca existiu nenhum alvo. Erguemos nossos arcos em direção ao vazio, e é ele que agora ri de nós. Porque você não percebe que ao nada é o maximo ao que podemos chegar? Para nós, o futuro é um alvo inexistente. E não importa a nossa pontaria, nunca iremos acertá-lo. O que faremos agora? Eu, você, o mundo? Continuaremos fingindo que não sabemos de nada?

Eu peço perdão, desistirei nesse momento, antes que o desejo por algo inalcançável me sufoque. Não posso ficar como lançando flechas em um infinito para sempre. Eu sei que um dia, você também irá desistir, meu querido.

Essa é uma despedida. Uma despedida que ainda não tive coragem de fazer.

6 comentários:

  1. Olá Mallu
    Seus textos estão cada vez mais complexos. Gostei muito da metáfora do casal que erra o alvo do relacionamento, pelo menos foi isso que eu entendi.
    Bjos.
    http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br

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  2. Primeira vez por aqui. Gostei da forma como escreve. Tive a impressão que você está apaixonada, pois escreveu com muito sentimento. Parabéns.
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    Entre arcos e flechas...o amor vai sendo ferido e cicatrizado a cada novo por do sol
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    te convido a visitar meu infinito particular.

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  3. Gente!
    Sei exatamente como é isso, L. A gente gosta da disputa de flechas, gosta de estar junto, de olhar sem ser percebido, da força do braço puxando a flecha pra tras. Mas sabe, la no fundo, que não existe um alvo. Que a flechada é inutil assim como todo o resto.
    Triste isso. Muito triste.
    Entendo, inclusive, a sua falta de coragem em despedir-se. Bom texto (o melhor do meu dia hoje). Desejo coragem!!

    Copiei a frase: Desvio o olhar antes que perceba que eu ando o observando.
    E saí colando no facebook, msn, twinto. Claro que com os devidos créditos à dona L. Diz muito de mim.

    Um beijo!!

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  4. Oi Mallu,

    Maravilha de texto. Penso que é difícil acerta o alvo, mas também pode ser fácil acertar. Não existe uma receita de bolo pronto, mas se é claro que não vale a pena armar a flecha, deve-se desistir pelo respeito a ética na luta.

    Beijos.

    Lu

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  5. Gostei desse texto me deixou com um ar de curiosidade... Acho que consegui tocar nele.
    Você se esconde tanto nos seus textos senhorita L.!!Precisamos conversar mocinha,rs.
    Amo seu jeito de escrever,tenho a impressão de que defenestrei alguma ideia e você não demorou muito a ver o resquício dela pedindo socorro. Um abraço.

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  6. Apontar flechas para o vazio é a sensação que eu tenho nesses últimos tempos sabe, sem ter um alvo pela frente. Também desisto e desisti de coisas inalcançáveis, estou indo atrás daquilo que posso e quero ter.
    Como sempre, seu texto é belíssimo e a mensagem que traz nele me atingindo bem no alvo ;}

    Beijos ><
    http://mon-autre.blogspot.com/

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